No telão do aeroporto vejo que o avião já está na pista. Ao meu redor, um grande número de pessoas alterna o olhar entre a mesma TV que observo e as portas de saída. Passam-se alguns segundos e no ar surge aquela sensação de que em breve iremos encontrar um olhar conhecido. Juntos, a multidão e eu fazemos o mesmo tipo de espera; todos nós aguardamos alguém.
Após alguns minutos uma turba indistinta de pessoas aparece do outro lado das portas fumê. Algumas se aglomeram ao redor das esteiras rolantes, outras vão direto para a saída. A partir desse momento, minha atenção fica dividida. Eu assim como os outros, procurava por alguém, no caso minha prima, mas também observava a reação daqueles que assim como eu haviam esperado.
A movimentação de pessoas era grande; as que tinham chegado lançavam olhares furtivos em busca de seus parentes ou conhecidos, as que estavam esperando ficavam na ponta dos pés, faziam gestos e acenos para serem localizadas. Namorados esperavam por suas amadas com flores nas mãos, namoradas aguardavam por seus amores com um brilho no olhar. Mães e filhos esperavam pelo pai que voltava de viagem, pais e mães encontravam seu filho que vinha fazer uma visita. Famílias inteiras, incluindo um cachorrinho, emocionavam-se ao reencontrar seus queridos parentes. Avôs e avós abriam o mais doce dos sorrisos ao verem sua pequena netinha pela primeira vez; ela, como que adivinhando a ocasião, vestia-se de princesa. Amigos que há muito não se viam abraçavam-se forte e derramavam algumas lágrimas, em contrapartida, homens de negócios faziam uma recepção fria para o novo engravatado que se junta a eles.
Escapando a todos esses grupos, alguns homens e mulheres passam isolados pela confusão de emoções que é um desembarque. Muito sisudos e com cara de poucos amigos, dirigem-se ao ponto de táxi mais próximo. Quanto a eles, não posso dizer ao certo o que aconteceu. Talvez uma recepção os esperasse em casa, a viagem tenha sido curta e eles tenham partido e chegado no mesmo dia, ou até estivessem atrasados para algum compromisso. Entretanto, nenhum desses motivos justifica a barreira impenetrável que eles construíram para supostamente se proteger. Na verdade ela serve para distanciá-los dos demais e como efeito colateral acaba por deixá-los cegos. De sua posição dita “segura” eles passam como sombras diante de um espetáculo humano de encher os olhos. Em meio a tanta demonstração de carinho e amor, esses homens e mulheres não olham para ninguém por mais de meio segundo e como recompensa são excluídos da onda de afeto que emana daqueles que se reencontram.