Em Veneza, nada é o que parece. Essa foi a maior lição que aprendi ao ler “O enigma Vivaldi”. Escrito por Peter Harris, o livro conta a história de Lucio, um jovem violinista espanhol e apaixonado pela obra de Vivaldi, que vai a Veneza para participar das Jornadas Musicais. Estarrecido com a falta de organização que predomina no evento que deveria prestigiar seu ídolo, ele decide pesquisar sozinho a vida do prete rosso – padre vermelho, nome pelo qual Vivaldi era conhecido por causa de seus cabelos e barba ruivos – e conhecer Veneza por sua conta. Ele acaba por fazer tudo isso junto com Maria Del Sarto, a filha da dona da hospedaria onde Lucio estava hospedado. Juntos eles vivem uma paixão belíssima, tendo como plano de fundo, os canais venezianos.
Tudo ia muito bem, até que, durante sua pesquisa, Lucio encontra uma partitura para violino sem nome, que datava do sec. XVIII. Ela estava em um livro de contas de 1.741 do Ospedalle dela Pietá, onde sabidamente Vivaldi havia lecionado. Duas coisas chamam a atenção do espanhol: 1.741 foi o ano da morte de Vivaldi, além disso, a partitura havia sido escrita com a quarta trítono. Quem tivesse escrito aquilo decididamente não sabia ou ignorava algumas regras musicais, pois aqueles acordes eram conhecidos como a música do diabo e tinham inclusive sidos proibidos pela Igreja, pois o som que produziam quando tocados era horrível.
A partir desse momento, o jovem casal se vê em meio a uma rede de intrigas e mistério, pois ambos estão certos de que aquela partitura contem o segredo que Vivaldi descobriu em Viena, pouco tempo antes de morrer. Eles são perseguidos por dois ramos da Fraternitas Charitatis - sociedade secreta que busca guardar determinados saberes a fim de evitar sua divulgação – e entre segredos e vaporettos, vivem a aventura de suas vidas.
O livro possui alguns clichês como as frases apaixonadas dos jovens, a perseguição em uma cidade história e até o segredo em si. Porém, vale ressaltar que a obra foi escrita em 2003, ano em que esse tipo de narrativa estava na moda, portanto dá pra deixar passar.
Bom mesmo é o cenário onde tudo isso se passa. Peter Harris consegue fazer Veneza brilhar como a mais bela jóia do Adriático (o que é uma verdade irrefutável). A descrição das praças, dos monumentos e palácios, das igrejas e da Ilha de Torcello faz com que praticamente vejamos a cidade a cada página do livro. Ele faz uma divisão que talvez tenha passado despercebida para alguns. Quando quer mostrar do que os doges – governantes venezianos da idade média – e a alta cúpula do poder eram capazes de fazer para conseguir uma informação, trata a cidade como Sereníssima República. Quando quer mostrar toda as suas qualidades como centro artístico e cultural, chama-a apenas de Veneza.
A leitura é agradável e ideal para os amenos momentos de lazer.