sábado, março 14

Mamma Mia!

Luz, animação, cor e música. Com essas quatro palavras posso descrever a maior parte desse ótimo filme. “Mamma Mia!”, baseado no homônimo espetáculo de teatro, conta a história de Sophie (Amanda Seyfried), uma jovem grega de 20 anos que está prestes a se casar com Sky (Dominic Cooper). Ela é filha de Donna (minha eterna diva do cinema Merryl Streep), mas devido as idas e vindas amorosas da mãe quando jovem, não sabe quem é seu pai. Entretanto, graças a um antigo diário de Donna, Sophie encontra o nome de três homens com quem sua mãe saiu 20 anos antes. São eles Sam Carmichael (Pierce Brosnan), Harry Bright (Colin Firth) e Bill Anderson (Stellan Skarsgård). Sem que ninguém saiba, Sophie convida seus três possíveis pais para seu casamento. Eles aceitam o convite e vão para a ilha grega onde elas moram. A partir daí é só emoção e melodia.

Por ser uma adaptação de uma peça teatral para o cinema e um musical, é comum vermos cenas um pouco esdrúxulas, mas o filme mantém um ritmo alegre, as cores são vivas e em sua maioria primárias ou secundárias, o cenário é belíssimo e a atuação de Merryl Streep é um espetáculo a parte. As músicas usadas são as do extinto quarteto sueco “ABBA” que fez um enorme sucesso na década de 1970 e início da década de 1980.

Falando um pouco de “Mamma Mia!” a peça de teatro, ela está em apresentação contínua desde sua estréia em Londres no mês de março de 1999. A produtora que resolveu mesclar as músicas do ABBA em um enredo foi Judy Craimer e suas pesquisas e investidas para que o espetáculo acontecesse começaram desde 1983. Visto por mais de 35 milhões de pessoas e conhecido como um dos maiores shows da Broadway, "Mamma Mia!" está em exibição permanente em mais de 10 cidades, entre elas Londres, Nova York, Las Vegas e Seul.

Eu gostei bastante do filme, mas sou suspeito para falar. Considero que minha vida tem trilha sonora e tenho mania de achar que certas músicas combinam perfeitamente com o que eu estou sentindo ou pensando em determinado momento. Gosto de dizer que elas conseguem traduzir o meu eu em melodia. Dessa forma, ver um musical onde pessoas dançam e cantam o que sentem para mim é uma delícia. Confesso que se por acaso encontrasse um grupo de pessoas felizes, correndo e cantando no meio da rua me sentiria muito tentado a ir com eles. Anh, tenho que informar que as músicas do “ABBA” são um pouco pegajosas e de maneira inevitável ficam no modo “repeat” por tempo indeterminado na cabeça... Assisti o filme há mais de duas horas e continuo cantando mentalmente “Mamma Mia, here we go again. My my, how can I resist you? ...”




Para quem gosta de musicais e alegria descompromissada, é uma ótima pedida.

Idas e vindas pelo ar.

No telão do aeroporto vejo que o avião já está na pista. Ao meu redor, um grande número de pessoas alterna o olhar entre a mesma TV que observo e as portas de saída. Passam-se alguns segundos e no ar surge aquela sensação de que em breve iremos encontrar um olhar conhecido. Juntos, a multidão e eu fazemos o mesmo tipo de espera; todos nós aguardamos alguém.

Após alguns minutos uma turba indistinta de pessoas aparece do outro lado das portas fumê. Algumas se aglomeram ao redor das esteiras rolantes, outras vão direto para a saída. A partir desse momento, minha atenção fica dividida. Eu assim como os outros, procurava por alguém, no caso minha prima, mas também observava a reação daqueles que assim como eu haviam esperado.

A movimentação de pessoas era grande; as que tinham chegado lançavam olhares furtivos em busca de seus parentes ou conhecidos, as que estavam esperando ficavam na ponta dos pés, faziam gestos e acenos para serem localizadas. Namorados esperavam por suas amadas com flores nas mãos, namoradas aguardavam por seus amores com um brilho no olhar. Mães e filhos esperavam pelo pai que voltava de viagem, pais e mães encontravam seu filho que vinha fazer uma visita. Famílias inteiras, incluindo um cachorrinho, emocionavam-se ao reencontrar seus queridos parentes. Avôs e avós abriam o mais doce dos sorrisos ao verem sua pequena netinha pela primeira vez; ela, como que adivinhando a ocasião, vestia-se de princesa. Amigos que há muito não se viam abraçavam-se forte e derramavam algumas lágrimas, em contrapartida, homens de negócios faziam uma recepção fria para o novo engravatado que se junta a eles.

Escapando a todos esses grupos, alguns homens e mulheres passam isolados pela confusão de emoções que é um desembarque. Muito sisudos e com cara de poucos amigos, dirigem-se ao ponto de táxi mais próximo. Quanto a eles, não posso dizer ao certo o que aconteceu. Talvez uma recepção os esperasse em casa, a viagem tenha sido curta e eles tenham partido e chegado no mesmo dia, ou até estivessem atrasados para algum compromisso. Entretanto, nenhum desses motivos justifica a barreira impenetrável que eles construíram para supostamente se proteger. Na verdade ela serve para distanciá-los dos demais e como efeito colateral acaba por deixá-los cegos. De sua posição dita “segura” eles passam como sombras diante de um espetáculo humano de encher os olhos. Em meio a tanta demonstração de carinho e amor, esses homens e mulheres não olham para ninguém por mais de meio segundo e como recompensa são excluídos da onda de afeto que emana daqueles que se reencontram.

sábado, março 7

Por do sol

Enquanto o sol desce no horizonte, ilumina com esplendor o firmamento. Com seus últimos raios tinge tudo com nuances de amarelo e branco, laranja e púrpura, azul e rubi. Vagarosamente, desejando que todos vejam o espetáculo, ele banha as nuvens com sua aquarela luminosa. O vento se encarregou de deixá-las curvas e arredondadas, transformou-as em esculturas com singelos detalhes.

À vista de todos, a natureza pintou no céu uma tela de rara beleza. Entretanto poucos souberam apreciá-la. A maioria de nós preferiu olhar para si mesmo e ruminar problemas e situações impossíveis. Enquanto a criação mostrava seu poder acima de nossas cabeças, muitos olharam para o chão, perdendo assim a visão de um sonho bom.

Obs: a foto é meramente ilustrativa. O que eu vi no céu hoje não se compara.

terça-feira, fevereiro 17

Dança no quintal


Sob a lânguida luz do sol, em uma segunda feira cinzenta,

Toalhas e roupas estiram-se no varal.

Dançam uma valsa muda; embalam-se pelo ar em movimento.

Revolvem-se em espasmos cadenciados; secam ao sabor do vento.

segunda-feira, fevereiro 16

Nova abertura em "Os Simpsons"

Pela primeira vez desde sua criação em 1989, a abertura do desenho “Os Simpsons” sofreu alterações. Novos detalhes das temporadas passadas foram incluídos, como o suco de Tomacco, e também personagens secundários, como Apu, seus oito filhos, o motorista do ônibus, Krusty o palhaço, a velhinha com 600 gatos, entre outros. Essa nova abertura estréia hoje e coincide com os novos episódios do desenho em alta definição; a trilha sonora entretanto, continua a mesma. A Fox começou a divulgar essa nova abertura sexta passada no youtube.

Particularmente eu gostei das mudanças. Elas possuem o humor peculiar do desenho e acompanham as alterações sofridas ao longo do tempo.

Dica bluebus

terça-feira, fevereiro 10

Wake up your fellings

A HP lançou há pouco tempo uma ação publicitária para divulgar sua nova linha de pc´s “The Power of touch”, para tanto eles criaram o site “Wake up your fellings”. Lá somos convidados a despertar nossos sentimentos adormecidos. Segundo uma explicação dada no próprio site, à medida que crescemos deixamos de exercitar certos sentimentos e eles acabam caindo em um sono profundo.

Com muita interatividade, escolhemos o sentimento que mais se assemelha a nós, o acordamos de diversas maneiras diferentes, podemos fazer downloads dos personagens e ainda conhecemos os novos pc´s.

O site é muito bem estruturado, o visual é muito bonito e eu particularmente gostei bastante pois a idéia central se assemelha um pouco ao que eu já disse aqui.



Dica do brain9.

sexta-feira, fevereiro 6

Olá 19, seja bem vindo a minha vida.

Quando somos crianças, fazer aniversário é uma festa só. Na fase adolescente, contamos os dias para completarmos 18 anos. Ao nos tornarmos jovens adultos, essa data nos leva a grandes reflexões. Depois de certa idade, passamos a correr da palavra “aniversário”. Já para o fim da vida, cada ano a mais é uma dádiva. E assim vivemos o tempo que nos é determinado.

Eu particularmente me encontro na fase da reflexão. Sim, pois fiz 18 ano passado e não posso ser mais considerado um adolescente, apesar de estar em meu último ano de teenager. Conversando com a minha amiga Nathália sobre o assunto, perguntei a ela como é ter 19 anos... A resposta foi a seguinte: “Muitas rugas, muitas responsabilidade, muita pressão. Afinal você está entrando no último ano TEEN da sua vida. BE CAREFUL!” Parece alarmante não? E realmente seria, se tudo não fosse dito no mais leve tom de brincadeira.

Tendo tantas coisas em mente, hoje a tarde enquanto aguardava minha vez em uma entrevista de emprego comecei a fazer uma balanço geral da minha existência. Eis o que constatei:

- Os momentos felizes foram quase diários e as tristezas esporádicas

- Em cada momento difícil da minha breve vida, sempre procurei por uma lição e cada coisa nova que eu aprendi nessas épocas me tornaram mais maduro.

- Minha família esteve presente, unida e forte ao meu lado, funcionando como um pilar que nunca me deixou cair.

- Fiz grandes amigos que considero como irmãos. Eles estarão sempre comigo e eu os levarei para onde for.

- Realizei sonhos simples e cultivei a imaginação para criar desejos mais complexos.

- Apreendi o máximo que pude de momentos especiais e guardo ótimas lembranças deles.

- Tive uma infância ideal e dela brotou minha criatividade e meu jeito de encarar a vida.

- Constatei que a leitura é minha alma exterior e que os livros são meus companheiros incondicionais, pois me oferecem tudo e não pedem nada em troca. Sem eles não posso viver.

- Aprendi a conversar olhando nos olhos e a nunca reprimir uma risada.

- Acima de tudo, agradeci a Deus. Olhando para trás, vi que Ele sempre esteve ao meu lado e em Sua companhia eu deixei minhas pegadas na história. Se em algum momento meu rastro desapareceu, foi porque ele me amparou em Seu colo e me carregou nos braços.

Ao perceber o quanto abençoados foram os anos que vivi, saldei o dia 06 de fevereiro com um largo sorriso dizendo “ Olá 19, muito prazer. Seja bem vindo a minha vida!”

Manifesto

Quando crianças, somos especiais. Criamos mundos alternativos e neles nos refugiamos quando necessário. A medida que crescemos, somos erroneamente ensinados que viver em um mundo de imaginação não é certo. Com o tempo, vamos perdendo a capacidade de inovação e nos contentamos em seguir o rumo da onda ao invés de nadar contra ela.

Sorte daqueles que não levam esse tipo de pensamento a sério – eu sou um deles. A criatividade é o óleo que faz girar as engrenagens do mundo. É ela que nos fornece as inovações necessárias para bem viver, as novas tecnologias e a constante evolução no modo de pensar dos seres humanos. As grandes empresas só sobrevivem ao ritmo frenético do mercado global graças à criatividade de seus funcionários que as levam rumo a novas áreas de atuação.

Entretanto, mesmo sabendo de todos os benefícios que surgem da capacidade de inovação, a grande massa a repudia. Instintivamente nos apegamos ao que já é conhecido, pois isso nos trás segurança. Em consequência, acabamos por negar aquilo que é novo.

Nesse momento entra a comunicação social. Nós comunicadores (e afortunadamente eu me incluo nesse grupo), temos o dever de levar a informação a todas as pessoas. É nosso papel divulgar o poder da criatividade e o conforto que dela advém. Devemos tornar público que o pensamento criativo e a capacidade de inovação são essenciais para uma vida de qualidade e acima de tudo, devemos lutar contra o paradigma ensinado a nossas crianças. Que elas sejam livres para imaginar e que colham os frutos cultivados pelo trabalho criativo.

quinta-feira, fevereiro 5

2012 - A continuação.

Então gente, ano passado eu comentei aqui sobre 2012, aquele filme catástrofe do Roland Emmerich, e indiquei também o site do Institute for Human Continuity. Na época podíamos apenas fazer nossa inscrição nesse endereço para concorrer a uma vaga no “santuário” que suportaria as catástrofes climáticas. Esse mês a coisa mudou, o site foi carregado de informações, pesquisas e cenários apocalípticos do que vem por ai, tudo em um tom de pesquisa oficial. Visualmente está muito bem feito e interativo. Recomendo a vocês, uma olhada na animação da passagem do Planeta X pelo sistema solar. Foi o que eu gostei mais.

É interessante notar que a não ser que cliquemos nos links no rodapé da página, não dá pra saber que se trata de uma publicidade.

A ação de marketing pra divulgação do filme conta também com o blog This Is The End de um maluco chamado Charlie Frost que questiona o IHC e também fala sobre o fim do mundo. Ao que parece, um ARG está a caminho, já que o doido do Charlie fala não sei quantas vezes nos vídeos frases como “O jogo vai começar”. É esperar pra ver.
A estréia do filme foi adiada mundialmente para 13 de novembro

Dica do Brain9

quarta-feira, fevereiro 4

O sonhador

Por entre o mar de crianças que entra na escola, ele caminha devagar. Tranquilamente vai arrastando sua mochila suja e rota pelo chão. Ele não atrai mais a atenção de seus colegas. Há muito tempo eles se acostumaram com seu jeito diferente. Alguns pais entretanto, lançam-lhe olhares tortos. “Que menino esquisito!” pensam uns, “Deve ser desleixado como os pais!” pensam outros.

Alheio a tudo isso, Gabriel segue seu caminho. Dirige-se à sala de matemática, seu primeiro horário naquela manha. O professor Ernesto já estava lá, escrevendo a matéria no quadro como sempre. A aula daquele dia seria puramente explicativa e se arrastaria como se tivesse paralisado o tempo.

“O que tornam esses fatos diferentes?” hão de me perguntar vocês. A princípio, histórias como essa acontecem todos os dias em milhares de colégios no Brasil. Com isso eu sou obrigado a concordar. A singularidade porém, está em Gabriel. Ele não é uma criança como as outras. Na verdade, garotos como ele não existem muito nos dias de hoje. Gabriel é um sonhador e com sua imaginação criou um mundo particular. Lá ele se refugia em momentos de tédio ou tristeza. Como conseqüência, em nosso mundo ele é considerado um distraído. Não presta muita atenção ao que faz e as vezes, passa por pessoas conhecidas sem as cumprimentar. Antes de julgá-lo é importante saber que ele faz com capricho aquilo que lhe é interessante e que costuma imaginar coisas enquanto caminha, por isso não reconhece as pessoas que passam por ele.

Voltando àquela manhã, podemos ver Gabriel encaminhar-se a seu lugar. Enquanto a aula não começa, ele conversa um pouco com seus amigos. Na verdade ele mais observa do que fala. Os outros garotos comentam sobre um filme que ele ainda não assistiu. Alguns minutos depois, o professor Ernesto começa a passar a matéria. Nesse momento Gabriel endireita-se na carteira e finge prestar atenção. De longe, ele realmente parece entender os números e as frações, mas quem o conhece bem sabe que ele não faz a menor idéia do que se passa na sala. Ele voltou-se para seu mundo e neste momento está muito distante daquela aula maçante.

Em suas aventuras particulares Gabriel já fez de tudo. Já rodou nos dedos os anéis de Saturno e pegou emprestadas as asas de dona Imaginação. Construiu castelos de areia e virou rei. Viajou de navio com o Holandês voador e deitou no colo da sereia Marina. Já voou no lombo de um dragão e atravessou o deserto num dromedário. Assistiu ao casamento do seu Texugo e foi padrinho de Assíria, a borboleta. Conheceu as filhas da velha Sequóia e consolou o Salgueiro Chorão. Já ganhou batalhas ao lado de elfos e forjou sua própria espada. Descobriu onde as nuvens são feitas e visitou um berçário de estrelas.

Hoje ele está na praia; trava uma luta acirrada com Marlin, o experiente peixe-espada. Pula para não ser atingido, rodopia e ataca. Defende-se, leva um golpe na perna e cambaleia; recompõe-se. Ataca novamente. Direita, esquerda, cruza a espada de mão. Corre veloz e acerta. Ganha o combate. Enquanto ajuda o amigo a se levantar, comenta sobre a batalha e aceita um segundo round. Porém antes de começar, Gabriel lembra-se que está atrasado para o encontro com a raposa Maria Art Manha e vai logo desculpando-se. Antes de ir promete voltar para uma revanche.

Em um piscar de olhos, o cenário muda e agora ele está num campo aberto e florido. Avista a casa de Maria ao longe. Pelo caminho vai conversando com algumas flores. Dá bom dia a Rosinha e elogia seu colorido. Acena para os girassóis e comenta sobre o calor que está fazendo. Pergunta sobre a saúde de dona Margarida e afirma que ela não está pálida. No meio do caminho encontra um grupo de dentes-de-leão que falam de seus atos corajosos. Ali ficou um bom tempo. Lembrando-se novamente de Maria, ele se levanta e corre. Com o passo apertado chegará a sua casa dali a 3 minutos. Ele já pode vê-la abrir a porta e acenar. Em breve estarão juntos tomando chá de canela e comendo brownies, enquanto conversam sobre as novidades em Siracusa. Entretanto quando Gabriel estava a apenas 50m de distância da casa, um ruído alto e estridente ecoa pelo campo. Parece o grito fino de um flamingo sendo caçado. Ele quer continuar correndo, mas sabe que não será possível. Antes do esperado, Gabriel é tragado bruscamente por um turbilhão de vento e quando dá por si está de volta à sua carteira. A aula acabara e o sinal que anunciava o intervalo já tinha tocado.

Pensando em tudo que deixou de fazer, Gabriel vai ao recreio. Como toda criança ele começa a se distrair com as brincadeiras. Porém, em um cantinho de sua mente, não só a raposa Maria, mas todo seu universo onírico está a esperar por ele. Juntos, criança e imaginação fazem a contagem regressiva para sua próxima aventura.

domingo, janeiro 25

Before Sunset

Há algum tempo descobri que meu aparelho de DVD faz um barulhinho diferente. Quando o notei pela primeira vez, prestei atenção e constatei que o som era parecido com algo que eu já conhecia. Passei um tempo pensando sobre aquilo e finalmente cheguei a uma conclusão. A princípio neguei a possibilidade e culpei minha imaginação fértil. Pensei também que o efeito poderia ser produzido por algum distúrbio no meu aparelho auditivo, mas a cada filme que eu assistia ele continuava lá, ao fundo. O barulho é idêntico [ou assim me parece] ao produzido pelas máquinas de projeção dos cinemas. Enquanto roda minha produção escolhida, meu DVD imita com perfeição o som do rolo de filme passando pela máquina.

Hoje a noite considerei o ruído providencial. Eu assistia ao filme “Before sunset”, em português “Antes do pôr-do-sol” e me senti transportado a uma sala de cinema, onde o único expectador era eu e para quem os atores falavam com exclusividade. Esta película é a continuação, de “Before sunrise”, que traduzido torna-se “Antes do sol nascer”. No primeiro desses filmes, dois jovens se conhecem em um trem que corta a Europa [meu tão querido Eurostar]. Eles resolvem descer em Viena, capital da Áustria, e lá pernoitar para se conhecerem melhor. Conversam sobre tudo e têm juntos uma noite perfeita. Antes de partirem no dia seguinte, fazem a promessa de se encontrarem naquela mesma estação dali a seis meses. Mas não é bem isso o que acontece.

“Before sunset” se passa nove anos depois e conta a história do segundo encontro de Celine e Jesse, interpretados de maneira impecável por July Delpy e Ethan Hawke respectivamente. Tudo [re]começa em uma biblioteca parisiense onde Jesse dá uma tarde de autógrafos promovendo o lançamento de seu primeiro livro. A história deste não poderia ser outra senão a daquela noite, passada em Viena. Em meio a perguntas sobre um novo best-seller, Jesse avista Celine por entre as estantes. Inevitavelmente eles se reencontram, mas Jesse tem um vôo marcado para as 22:00 e eles percebem que terão que se despedir novamente antes do sol se pôr.

Assim como no primeiro filme, em “Before sunset” Celine e Jesse parecem manter um diálogo ininterrupto. Caminham por parques, sobem escadas, andam de barco e de carro, mas estão sempre conversando sem nunca perder o fio da meada. Eles falam de tudo; sobre o que cada um deles se tornou, o que fizeram nesses nove anos, suas crenças, suas experiências, o modo particular de cada um ver a vida e em especial a noite em Viena. Jesse é um escritor bem sucedido, casado e tem um filho de 4 anos. Sua união é instável e ele admite que casou-se por na época sua mulher estar grávida. Verdadeiramente ele não a ama. Já Celine trabalha para a Cruz Verde e combate a degradação ambiental. Depois de vários romances mal-sucedidos ela agora namora um fotógrafo de guerras que está sempre viajando para cobrir algum conflito. Mas a pergunta que fica é: verdadeiramente, ela o ama? Entre reflexões e reminiscências, o casal percebe que ambos ganharam e perderam mais do que poderiam imaginar quando decidiram pular daquele trem na Áustria e constatam que a vida poderia ter sido muito diferente se tivessem cumprido a promessa da estação.

Para mim torna-se um pouco difícil caracterizar toda a grandeza desse filme. A relação entre os temas abordados, a mescla de sentimentos envolvidos e a naturalidade da conversa entre Jesse e Celine é de uma perfeição raras vezes vista em Hollywood. É como apreciar uma obra de arte em movimento. Você consegue vê-la mexer-se, falar e com suas frases ela te leva a profundas reflexões, mas na verdade tudo o que você quer é observar e deleitar-se com a beleza que se desenrola diante de seus olhos. “Before sunset” é um romance estupendo, mas em nenhum momento chega a ser água-com-açúcar. As emoções que se desenrolam são teatralmente arquitetadas e levam a um final quase palpável.

Literalmente leva-se um susto quando começam os créditos finais pois é impensável acreditar que já acabou. Entretanto, a descrição de Jesse para seu livro serve perfeitamente para o fim dessa produção: “Os românticos acham que eles ficaram juntos, os cínicos acham que não e os indecisos por não terem certeza, perguntam. O certo é que responder a isso acabaria com todo o suspense”.

Melhor do que eu poderia concluir!